domingo, 26 de maio de 2013

Humanos Também Sabem Lamber

Uma jovem conhecida por Lisa costumava ficar sozinha em casa à noite, uma vez que seus pais trabalhavam até tarde. Por isso, ganhou de seus pais um cachorro para que fizesse companhia a ela e a protegesse.

Uma noite, Lisa acordou com o barulho de uma goteira. Levantou-se e foi até a cozinha fechar a torneira direito. Antes de se deitar, colocou a mão embaixo da cama e o cão a lambeu.

O som da goteira continuava, então foi ao banheiro se certificar de que a torneira também estivesse fechada.  Voltou ao quarto, colocou a mão embaixo da cama e o cão novamente a lambeu.

Mas o som continuava, então ela saiu e fechou todas as torneiras que havia. Voltou ao quarto, estendeu a mão debaixo da cama e o cão novamente deu uma lambida.

A goteira continuava: plic, plic, plic. Dessa vez, ela parou por um instante e localizou a origem do barulho. Vinha do próprio guarda-roupa dela! Abriu a porta e lá encontrou seu cachorro pendurado de ponta-cabeça com um corte no pescoço. Escrito num dos vidros do guarda-roupas estava: Humanos Também Sabem Lamber!!!.

sábado, 25 de maio de 2013

nova página: Lendas Urbanas

Buh!

Sabe aquela historinha que você ouviu de um conhecido e que te arrepia até hoje? É dessas que tratamos na seção Lendas Urbanas. Visite esta área do blog destinada às histórias que nos deixam com uma pulga atrás da orelha sempre que parecem se misturar com a realidade.
Aproveite também para contá-las àquele seu sobrinho mala ou naquele encontro com fogueira entre amigos.
Boa leitura!

terça-feira, 21 de maio de 2013

The Man Who Loved Flowers by Stephen King

Olá, Creepers!

Bem-vindos à primeira postagem do [En]Creepta!

O conto a seguir foi escrito por Stephen King e publicado em 1977 como The Man who Loved Flowers. Surpreendente.

Esta é uma tradução feita por nós, assim como as demais traduções que assombrarão este blog.

Aproveitem e bons arrepios!


  O HOMEM QUE AMAVA FLORES

            Elijah | Gamourel | O' Liam | Pone

                                      No início de uma noite de maio de 1963, um jovem com a mão no bolso subia rapidamente a Terceira Avenida de Nova York. A brisa estava agradável e linda, o céu escurecia de tons vagarosos de azul até o violeta sereno e adorável do crepúsculo. Existem pessoas que amam a cidade, e esta foi uma daquelas noites feitas para estes amantes. Todos os que estavam à entrada de cafés e lavanderias e restaurantes pareciam sorrir. Uma velha carregando duas sacolas de comida em um carrinho de bebê antigo sorriu forçosamente para o jovem e o cumprimentou:
                         - Oi, lindo!
                         O jovem deu um sorriso tímido e acenou levantando a mão.
                         Ela prosseguiu seu caminho, pensando que ele estaria apaixonado.
                         Ele deu essa impressão. Ela vestia um terno cinza-claro, a gravata fina um pouco afrouxada, o botão superior do colarinho desabotoado. Seu cabelo era escuro e curto. Sua pele, clara, seus olhos, um tom claro de azul. Um rosto nada extraordinário, mas nessa noite agradável de primavera, nesta avenida, em maio de 1963, ele estava bonito, e a senhora se pegou pensando num momento de doce nostalgia que, na primavera, qualquer um pode ser belo... Se esse alguém estiver com pressa para encontrar a pessoa de seus sonhos para jantar e, talvez, dançar depois. A primavera é a única estação em que a nostalgia nunca parece amargar, e ela seguiu seu caminho feliz por ter falado com ele e feliz por ele ter retribuído o elogio ao erguer a mão num meio-cumprimento. O jovem atravessou a Rua 63, caminhando a passos ligeiros e aquele mesmo sorriso tímido em seus lábios. Na metade do quarteirão, um velho estava parado ao lado de um carrinho de mão avariado e cheio de flores – a cor predominante era o amarelo; uma febre amarela de junquilhos e açafrões-bravos. O velho também tinha cravos e algumas rosas-chá de estufa, na maioria amarelas e brancas. Ele estava comendo um pretzel e ouvindo um rádio transistorizado volumoso que estava posicionado diagonalmente em seu carrinho.
                           O rádio vazou notícia ruim que ninguém ouviu: um assassino que usava um martelo ainda estava à solta; JFK havia declarado que a situação num pequeno país asiático chamado Vietnaim (“Viêti-não”, assim leu o narrador do noticiário) precisaria de monitoramento cuidadoso; uma mulher não-identificada havia sido resgatada do Rio East, um júri de triagem e pronunciamento havia falhado em indiciar um chefe do crime na atual guerra do governo da cidade contra a heroína; os russos haviam detonado um dispositivo nuclear. Nada disso parecia real, nada disso parecia importar. A brisa estava agradável e doce. Dois homens com barriga de chope estavam parados do lado de fora de uma padaria, lançando moedas e fazendo cócegas um no outro. A primavera tremia na chegada do verão e, na cidade, o verão é a estação dos sonhos. 
                            O jovem passou pela barraca de flores e o som das más notícias se desvaneceu. Ele hesitou, olhou por cima do ombro e pensou com mais calma. Pôs a mão no bolso do casaco e encostou novamente naquilo que estava lá dentro. Por um instante, seu rosto pareceu confuso, sozinho, quase que assombrado, e então, ao tirar a mão do bolso, recobrou sua expressão anterior de grande expectativa.
                            Ele voltou à barraca de flores, sorrindo. Ele daria flores a ela, o que a agradaria. Ele adorava ver seus olhos brilharem de surpresa e alegria quando comprava algo inesperado para ela – nada demais, porque ele estava longe de ser rico. Uma caixa de doces. Um bracelete. Uma vez, somente uma sacola com laranjas Valência, porque ele sabia que eram as favoritas de Norma.  
                           – Meu jovem amigo – disse o florista, uma vez que o homem de terno cinza voltava, percorrendo seus olhos pela mercadoria no carrinho de mão.
                           O vendedor tinha aproximadamente 68 anos e, apesar do calor da noite, usava um suéter cinza de tricô rasgado e uma touca. Seu rosto era um mapa de rugas, olhos fundos em bolsas, e um cigarro que tremia entre seus dedos. Mas ele também se lembrava de como era ser jovem na primavera – jovem e com tanta paixão que você acaba indo a praticamente tudo quanto é lugar. O rosto do florista era normalmente azedo, mas agora sorria ligeiramente, assim como fez a velha que empurrava as compras, porque esse rapaz era um caso óbvio. Ele retirou migalhas de pretzel da frente de seu suéter largo com uma escova e pensou que se aquele menino estivesse doente, seria levado a uma UTI naquele instante.
                            – Quanto custam suas flores? – perguntou o jovem. 
                            – Eu te faço um belo buquê por um dólar. Essas rosas-chá são de estufa. Custam um pouco mais, sete centavos cada. Eu faço meia-dúzia por três dólares e cinquenta centavos.
                            – Caro – retrucou o jovem. 
                            – O que é bom custa dinheiro, meu amigo. Sua mãe nunca te ensinou isso?
                            O jovem esboçou um sorriso:
                            – Ela também deve ter dito alguma coisa assim.
                            – Claro. Com certeza ela disse. Dou meia-dúzia, duas vermelhas, duas amarelas, duas brancas. Não dá para fazer melhor que isso, dá? Ponho um pouco de mosquitinho – elas adoram! – e completo com folha de samambaia. Certo. Ou você pode comprar o buquê por um dólar.
                            – Elas? – o jovem perguntou, ainda sorrindo.
                            – Meu jovem – disse o vendedor de flores, arremessando a bituca do seu cigarro na sarjeta e voltando a sorrir. – Ninguém compra flores pra si próprio na primavera. É como se fosse uma regra nacional, entendeu o que eu quis dizer?
                            O jovem pensou em Norma, em seus olhos felizes e surpresos e seu sorriso meigo, e abaixou a cabeça um pouco:
                            – Eu acho que eu vou fazer assim.
                            – É claro que vai. O que me diz?
                            – Bom... O que você acha?
                            – Vou te dizer o que eu acho. Afinal, conselho ainda é de graça, não é?
                            O jovem sorriu e disse:
                            – Acho que é só o que me restou, isso sim.
                            – E o pior é que você está certo – disse o florista. – Tudo bem, meu jovem amigo. Se as flores são para sua mãe, dá um buquê pra ela. Alguns junquilhos, alguns açafrões-bravos, alguns lírios-do-vale. Ela que num estraga as coisa dizendo: “Ah, Júnior, amei todas quanto custaram ah são demais não sabe que não pode jogar dinheiro fora?”.
                             O jovem lançou a cabeça para trás e riu.
                             O florista disse:
                           – Mas se é para a sua garota, aí a coisa é outra, meu filho, e você sabe disso. Você dá rosas-chá e ela não vira uma administradora, captou o que eu disse? Olha, ela vai jogar os braços em volta do seu pescoço!
                           – Vou levar as rosas-chá – disse o jovem, e desta vez foi o vendedor de flores quem riu.
                          Os dois homens jogando moeda deram uma olhada, sorrindo.
                          – Ei, garoto! – um deles chamou. Você quer comprar um anel de casamento baratinho? Te vendo o meu... Não quero mais.
                          O jovem abriu um sorriso e corou até a raiz de seus cabelos escuros.
                          O florista pegou seis rosas-chá, podou uma parte do caule, borrifou água e as envolveu num grande maço em formato de cone. Hoje à noite o tempo vai estar do jeito que você sempre quis – anunciou o rádio –, agradável e seco, com temperaturas variando de 20 a 25 graus, perfeito para curtir as estrelas do terraço, se você for do tipo romântico. Curta, Grande Nova York, curta!
                          O vendedor passou fita crepe na junta do maço de papel e aconselhou o jovem a dizer a sua garota que um pouco de açúcar adicionado à água em que as flores fossem colocadas as preservariam por mais tempo.
                          – Digo a ela – falou o jovem. Pegou uma nota de cinco dólares. – Obrigado. 
                          – Só estou fazendo meu serviço, meu jovem amigo – retribuiu o vendedor, devolvendo um dólar e 50 centavos. O sorriso dele aumentou um pouco. – Dê um beijo nela por mim.
                          No rádio, o Four Seasons começou a cantar Sherry. O jovem embolsou o troco e voltou a caminhar pela rua, olhos abertos e atentos e ansiosos, olhando não muito ao seu redor para a vida que fluía para cima e para baixo na Terceira Avenida como que para dentro e à frente, se antecipando. Mas algumas coisas realmente chocavam: uma mãe empurrando o bebê em um carrinho, e o rosto da criança comicamente lambuzado de sorvete; uma menininha pulando corda e cantarolando uma rima:
                         – Betty e Henry a árvore escalando, se B-E-I-J-A-N-D-O! Primeiro vem o amor, depois o casamento, lá vem Henry, com o carrinho e o bebê dentro!
                         Duas mulheres paradas em frente a uma lavanderia, fumando e comparando a gravidez uma da outra. Na vitrine de uma loja de hardware, alguns homens olhavam para uma enorme TV em cores com uma etiqueta que marcava um preço de quatro dígitos – passava uma partida de beisebol, e o rosto de todos os jogadores estava verde. O campo lembrava vagamente a cor de um morango, e os New York Mets estavam à frente dos Philies num placar de 6-1 já no final da nona entrada.
                         Ele continuava a andar carregando as flores, sem atentar para o fato de que as duas mulheres em frente à lavanderia haviam parado de conversar por um momento e o observavam com melancolia enquanto ele ia com seu papel de rosas-chá; seus dias de ganhar flores já há muito se acabaram. Ele não se deu conta de que um oficial de trânsito parava os carros no cruzamento da Terceira com a 69 com um estrondo em seu apito para deixa-lo passar; o próprio oficial estava noivo e reconheceu a expressão sonhadora no rosto do jovem a partir do seu espelho de barbear, no qual ele a vinha notando com frequência ultimamente. Não se deu conta das duas adolescentes que passaram por ele no sentido contrário e então se abraçaram e deram risadinhas.
                         Na Rua 73 ele parou e virou à direita. Esta rua estava um pouco mais escura e era ladeada por restaurantes precários de arenito vermelho com nomes italianos. Três quarteirões adiante, uma partida de stickball se desenrolava sob uma iluminação que se extinguia. O jovem não foi tão longe; na metade do quarteirão, entrou em uma travessa estreita.
                         A esta altura, as estrelas estavam visíveis, brilhando suavemente, e a travessa estava escura e sombria, ladeada por formas vagas de latas de lixo. Agora, o jovem se via só – não, não bem assim. Um gemido trêmulo surgiu da escuridão púrpura, e o jovem franziu as sobrancelhas. Era o cantar de um gato apaixonado, e não havia nada de especial naquilo.
                         Ele andou mais devagar, e olhou rapidamente seu relógio. Eram oito e quinze e Norma deveria estar... Foi aí então que ele a viu vindo do pátio em sua direção, usando uma calça azul-marinho e uma blusinha de marinheiro que faziam o coração dele doer. Era sempre uma surpresa vê-la pela primeira vez, era sempre um doce choque – ela parecia tão jovem.
                         Desta vez seu sorriso brilhou – se irradiou, e ele caminhou mais rápido.
                         – Norma! – disse ele.
                         Ela olhou para cima e sorriu... mas, ao se aproximarem, o sorriso desvaneceu.
                         O próprio sorriso do jovem estremeceu um pouco, e ele sentiu um momento de inquietação. O rosto dela acima da blusinha de marinheiro parecia borrado. Estava ficando mais escuro agora... ele poderia estar enganado? De forma alguma. Era Norma.
                         – Te trouxe flores – disse ele num alívio contente, e entregou o maço de papel a ela.
                         Ela olhou para as flores por um instante, sorriu – e as devolveu.
                         – Obrigada, mas você está enganado – disse ela. – Meu nome é...
                         – Norma – suspirou ele, e sacou o martelo de cabo curto de seu casaco onde esteve todo o tempo. – São para você, Norma... sempre foram para você... todas para você.
                          Ela se afastou, sua face um borrão branco e redondo, sua boca um O negro escancarado de terror, e ela não era Norma, Norma estava morta, já estava morta fazia dez anos, e não importava porque ela iria gritar e ele balançou o martelo para que o grito parasse, para matar o grito, e ele balançou o martelo o maço de flores caiu de suas mãos, o maço foi ao chão e caiu aberto, derramando rosas-chá vermelhas, brancas e amarelas ao lado das latas de lixo amassadas nas quais os gatos faziam um amor estranho no escuro, gritando de amor, gritando, gritando.
                           Ele balançou o martelo e ela não gritou, mas poderia gritar porque não era Norma, nenhuma delas era Norma, e ele balançou o martelo, balançou o martelo, balançou o martelo. Ela não era Norma e assim ele balançou o martelo, como ele havia feito outras cinco vezes.
                            Algum tempo indeterminado depois, deslizou o martelo de volta para o bolso interno de seu casaco e foi para longe da sombra misteriosa espalhada pelo paralelepípedo, longe da sujeira de rosas-chá perto das latas de lixo. Virou-se e saiu da travessa estreita. Já estava completamente escuro. Os jogadores de stickball já haviam entrado. Se havia manchas de sangue em seu terno, elas não apareceriam, não no escuro, não no escuro agradável da primavera tardia, e o nome dela não era Norma, mas ele sabia qual era o nome dele. Era... era
                             Amor.
                            O nome dele era amor, e caminhava por essas ruas escuras porque Norma o aguardava. E ele a encontraria. Algum dia em breve.
                             Ele começou a sorrir. Um gingado apareceu em seu andar conforme ele caminhava pela Rua 73. Um casal de meia-idade sentado nos degraus do seu prédio o observava passar, cabeça inclinada, olhos distantes, um sorriso tímido em seus lábios. Quando ele passou, a mulher disse:
                              – Por que você não fica mais daquele jeito?
                              – Huh? 
                              – Nada – disse ela, mas observava o jovem em seu terno cinza desaparecer na escuridão da noite invasora e pensou que, se houvesse algo mais belo que a primavera, teria que ser o amor jovem.